sábado, 5 de dezembro de 2015

Ontem ouvi dizer que sou insuportável

Pra quem diz que eu não percebo quando alguém está me dando mole, você está
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  Hoje, depois do que eu imaginava serem anos, entrei aqui no blog porque acredito que tive inspiração para fazer um conto - talvez um microconto. Só que, para a minha surpresa, tanto o título quanto essa frase acima já estavam na lista de postagens, salvas como um rascunho. Sei do que se trata, até fiz um desenho+colagem sobre isso (o primeiro que colori no GIMP usando dinâmicas de pintura), mas não lembrava de tinha entrado no blog para registrar algo sobre isso; como podemos ver, ficou incompleto - talvez foi outra inspiração que eu tive e achei que daria alguma coisa interessante. Essa pode ser a história de hoje também, porque as motivações se encontram bem próximas, caminhando lado-a-lado.

 Hoje eu gostaria de lhes contar uma pequena história: a história do menininho vazio.

  Era uma vez um menininho vazio. Para todo mundo que o olhasse de longe, era um menininho bem normal, devo dizer: não era alto, não era forte, não era loiro nem tinha os olhos azuis. Embora certamente ele desejasse isso com muita força, o menininho vazio não tinha super-poderes, nem nenhuma habilidade especial. Se fosse um desenho, o menininho vazio poderia ser o Doug Funnie - era só um carinha mediano. Um carinha - mediano. Mas nem isso o menininho vazio era, ele não era um desenho. Era uma pessoa, dessas que você passa pela rua e nem nota, dessas que você pergunta a hora e nunca mais se lembra.
  Embora isso possa parecer contraditório, quem conhecia o menininho vazio e conseguia cativá-lo gostava de estar com ele. Era fácil passar algum tempo com o menininho vazio, então algumas pessoas gostavam da companhia dele. Como ele era vazio, ninguém precisava se preocupar muito com ele, e isso é uma ótima característica para uma companhia. Passear com o menininho vazio era unir o melhor dos passeios com companhia sem ter que se preocupar com nada além dos próprios gostos e interesses - não que todo mundo que saísse com o menininho vazio fosse egoísta, nada disso, mas simplesmente não precisavam ter essa preocupação. Se alguma coisa deu errado no passeio, toda a culpa poderia ser colocada no menininho vazio, pois ele era vazio e, por isso, incapaz de se irritar com isso. O menininho vazio não se importava de se arrumar e depois ter que voltar para casa sozinho, e não porque ele fosse desprendido ou qualquer coisa assim, mas simplesmente porque ele era vazio. Ele não iria chorar se fosse acusado de alguma coisa insensível, e não porque ele fosse forte, mas porque, sendo um menininho vazio, ele não tinha lágrimas para chorar. Ele te explicaria tudo aquilo que você deveria perceber por conta própria mesmo que você dissesse que é tudo culpa dele, porque o menininho vazio não tinha coração pra se encher de tristeza. Ele não choraria sozinho em casa se você fosse cruel com ele, pois como o menininho vazio não tinha sentimentos você não precisava medir as suas palavras com ele. O menininho vazio não precisa de desculpas, de compreensão ou de carinho, porque essas coisas não tem lugar dentro dele - um espaço completamente vazio. O menininho vazio não precisa que encham ele com nada, então você pode guardar tudo pra você.