sexta-feira, 9 de março de 2007

O poder curativo dos falsos amigos

Já há alguns dias venho pensando sobre o verdadeiro significado de amizade; não da palavra, mas o conceito, a idéia. Eu já pensei que tinha amigos, para depois perceber que não. Mas eventos recentes me fizeram pensar que eu é que poderia estar superestimando a amizade, esperando dela algo que ela não se propunha a oferecer; por isso, me coloco a tentar compreender o sentido desse conceito.
Bom, geralmente entendemos por amigo aquela pessoa que é mais que um colega, mais que uma pessoa com quem compartilhamos gostos e predileções; amigo é aquela pessoa de quem gostamos pelos próprios méritos dela, não por enxergarmos esses mesmos méritos em nós. Colega serve pra jogar bola, amigo serve pra ajudar a remendar a bola furada; colega serve para ir junto em um show, amigo espera o ônibus com você; colega te diz o que é certo e o que é errado, amigo dá opinião. O amigo, acredito, é aquela pessoa que discorda do que você faz, mas é capaz de conversar horas a fio sobre esse tema se ele te faz feliz e, além disso, te dá conselhos que te aborrecem sobre isso de que ele discorda; o verdadeiro amigo não quer, em hipótese alguma, deixar de falar com você, mas encara essa conseqüencia para te fazer bem. O amigo não te ouve sempre, só ouve quando você precisa; nos outros momentos, ele conversa com você. Amigo de verdade não fala nada sobre você que ele não falaria na sua presença, e se falou algo que você ainda não sabe, ele vai te contar na primeira oportunidade; se um amigo sabe que você falou dele, ele não te interroga nem acusa, mas ele espera que a sua amizade te leve a falar disso com ele. Seu amigo deve ser a última pessoa a duvidar de você, porque não acho que consigamos ser amigos de quem não podemos confiar. Seu amigo vai estar sempre lá, no mesmo lugar que você deixou ele, porque não consigo entender distâncias entre amigos. E, você terá certeza de que alguém é seu amigo quando você constatar que essa pessoa ficou triste por você não ter sido amigo dela; infelizmente, essa certeza virá tarde demais, porque os amigos não perdoam, eles entendem, e não há mágoa que uma compreensão não possa curar; se seu amigo continua magoado com você, acredite, não há o que compreender. Amigo não é só um, mas amigos não nascem em árvores; amigo não se cultiva, nem é trabalhoso ter amigos ou encontrá-los, bastando apenas ser amigo dos seus amigos. O que dá muita dor-de-cabeça, entretanto, é saber quem realmente é seu amigo. Na amizade os lados estão eqüilibrados, e se não estão, não é amizade. Essa é a minha idéia de amizade, ou ao menos uma parte essencial dela.
Amigos estão raros hoje em dia. Tanto estão, que as pessoas nomeiam a muitos de amigos, para sentir-se cercadas de amigos, e aqueles que deveriam realmente ser chamados de amigos tornam-se "melhores amigos". Colega é tido muitas vezes como uma ofensa, porque comparado com amigo; mas poderia soar como um leve elogio se comparado com um conhecido. Mas todos querem ser amigos, mesmo que não estejam dispostos a empenhar-se na tarefa; isso gera amigos medíocres, ou melhor, não-amigos, que tendem a tornar-se maus-amigos, ou melhor, maus não-amigos (ou seria, em virtude do desempenho, bons não-amigos?). Falsos amigos, portanto.
Depois de toda essa conceituação e constatações, eu poderia desistir da amizade, afinal, ela não parece ter uma boa relação custo-benefício. Mas não, acabei foi por entender o contrário, ou seja, que os maus amigos não definem a amizade, apenas mostram o poder que esta tem na mão de pessoas medíocres. É como as armas de fogo, por exemplo, que tem o propósito único de matar e destruir, mas nas mãos de pessoas boas podem acabar por salvar vidas, mesmo que para isso destruição e/ou morte ocorra. Os falsos amigos, com o péssimo uso que fazem da amizade, não me fazem pensar que amizade não vale à pena, mas exatamente o contrário, pois, se usada para um propósito totalmente contrário ao que penso ser o seu objetivo ela (a amizade) já é capaz de tanto, me lembro do potencial que ela tem quando é usada para cumprir seu objetivo.
Agradeço a todos os meus poucos amigos por me ajudarem a chegar a essa conclusão!

2 comentários:

Unknown disse...

Cara, embaixo de sete chaves você sempre encontrará um amigo. O complicado é lembrar onde você largou as benditas chaves...

Anônimo disse...

As pessoas costumam superestimar os "amigos"(e não a amizade),por serem um tanto quanto carentes e ingênuas. Não é muito complicado perceber certas coisas em certas pessoas, mas não dá pra perceber tudo em todos. É na prática que vamos descobrindo a verdade, quem são os amigos e quem são os colegas...